CRESS Goiás celebra a militância da assistente social Anadir Cezaria de Oliveira, do Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado e coordenadora do Coletivo de Mulheres e do Núcleo de Promoção e Inclusão Social da Comurg. Anadir é uma das cinco mulheres pretas homenageadas na exposição “Kieza: de onde eu venho”, em cartaz até dia 1º de outubro, na Vila Cultural Cora Coralina, em Goiânia.
Ela é uma dandara. Sempre foi. Criança, adolescente, mulher feita, todo o tempo uma guerreira!
Anadir Cezaria de Oliveira nasceu na cidade de Caçu-GO, em 5 de novembro de 1960. Aos 12 anos, por orientação da mãe, Conceição Teixeira de Oliveira, muda-se para a casa de sua madrinha, em Goiânia, “para poder estudar”. Pela manhã, vai pra escola Nhanha do Couto, no Setor dos Funcionários. À tarde, “arruma a acasa”.
Conclui o ‘primário’ na Nhanha. O ginásio tem de ser em duas etapas, por contingências da vida. Depois da 5ª e 6ª séries no Colégio São Domingos, engravida e precisa parar de estudar. Dá à luz seu primeiro filho e passa a cuidar dele.
Com apoio da madrinha, faz vários cursos técnicos e profissionalizantes. Um deles, de telefonista, que lhe garante o primeiro emprego na Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg). Por lá, conhece “o verdadeiro amor” de sua vida, eletricista da extinta Companhia de Iluminação Municipal de Goiânia (Comluz), Luiz Carlos Pereira de Oliveira.
Volta a estudar. No colégio Solon Amaral faz da sétima série até o terceiro ano do ‘2º grau’. Aos 19 anos, em 1992, casa-se com Luiz Carlos. Adia novamente os estudos.
No mesmo período, depois de atuar por onze anos como telefonista da Comurg, é eleita Diretora de Patrimônio da Associação dos Servidores da empresa. Em 1999, assume a função de assessora da Diretoria de Coleta da companhia, onde atua cerca de 14 anos.
Só aos 34 anos, após dois vestibulares, conquista uma vaga na faculdade. Passado um ano na graduação do Serviço Social da Universidade Católica de Goiás (atual PUC), por dificuldade financeira, posterga o sonho do diploma. Anos mais tarde transfere-se para a Unopar, onde, finalmente, em 2012, de insistente social, forma-se Assistente Social!
Profissional, passa a atender como assistente social na Comurg.
Fundadora do Coletivo de Mulheres da empresa, torna-se coordenadora do Núcleo de Promoção e Inclusão Social da empresa, onde desenvolve seu trabalho já há oito anos. O núcleo promove o empoderamento das mulheres e homens que atuam na empresa, cursos de formação para garis, cursos na área de reciclagem, além de ensinar a não violência contra a mulher.
No entrelaçamento de tantas histórias -- criança, adolescente, jovem e mulher madura -- essa dandara se encontra na militância, na condição de “mulher preta” emancipada, como ela própria relata:
Bulling
“O despertar (pra militância) ocorre desde criança. Eu era negra e obesa. Me chingavam de bolinha. Imagine isso na sala de aula! Sofria uma discriminação danada. Tinha hora que eu nem queria estudar por causa disso, de tanto os meninos falarem do meu cabelo, baterem em mim. Pra não apanhar, além de correr, eu tinha que viver tacando sal nos olhos dos meninos. Enfrentei adversidades desde criança”.
Conceição
“Minha mãe, Conceição Teixeira, era uma mulher analfabeta quando as minhas irmãs, que são mais velhas, nasceram. Depois que ela fez Mobral, estudou, preocupada em saber ensinar as tarefas. Minha mãe trabalhava como lavadeira e era muito ligada à igreja católica, às pastorais”.
Marta Cezaria
É por influência de sua irmã, Marta Cezaria, então na Congregração Missionárias de Jesus Crucificado, da igreja católica, que Anadir fortalece a sua militância na organização das mulheres negras no município de Goiânia. “A minha militância vem da minha mãe, da luta que eu via dela, e da Marta Cezaria, que desde novinha sempre gostou de estudar e nos ajudar a todas. Ela falava que a gente tinha que estudar, que não poderíamos desistir. Dizia que a gente era mulher negra, tinha que estudar e lutar”.
Anadir por ela mesma
“O fato de eu querer militar no movimento de mulheres negras se dá porque toda a vida, desde pequena, eu sentia na pele a discriminação. Era pobre, negra e obesa. E depois, com o apoio da Marta Cezaria, quanto mais eu estudava, mais eu via que eram muito poucas as mulheres negras que estudavam. Nessa época eu tinha já meu segundo filho e isso também me motivava, eu precisava dar exemplo para meus filhos também quererem estudar”.
Consciência da luta de classes
“Quando eu era jovem, a minha madrinha sempre punha a gente, eu e as filhas dela, não só para estudar, mas pra fazer cursos. Fiz de manicure, de pintar espelho, de costura, de telefonista. Foi quando comecei a trabalhar na Comurg, tinha meu dinheiro que era só meu. E aí comecei a ver dentro da própria empresa: servidora administrativa, era raro ver uma mulher negra. Você via muita mulher negra varrendo ou em outros cargos. Foi aí que passei a ter consciência de classe”.
Homenagem
A assistente social Anadir Cezaria de Oliveira é uma das cinco mulheres pretas homenageadas na exposição “Kieza: de onde eu venho”, em cartaz até dia 1º de outubro, na Vila Cultural Cora Coralina (R. 3, s/n, esquina com a Av. Tocantins, St. Central, Goiânia).
A mostra traz ilustração do artista Alex Katira que retratam cinco mulheres pretas moradoras de Goiânia e que, com suas histórias, pintam a cidade de forma a evidenciar o combate ao racismo, a luta pela valorização estética, cultural, religiosa e política deste grupo e a resignificação das lutas de seus antepassados para a potência que suas próprias histórias sinalizam, destaca a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas, parceria da Secretaria de Cultura de Goiás na iniciativa.
Perfil/Anadir Cezaria de Oliveira
Anadir Cezaria de Oliveira é assistente social. Trabalhadora da Comurg desde 1982, onde coordena o Coletivo de Mulheres e do Núcleo de Promoção e Inclusão Social da companhia. É do Conselho Diretor do Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado e conselheira do Conselho Municipal de Assistência Social de Goiânia (CMASGYN). É ainda do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher da capital e coordenadora do Fórum Estadual de Mulheres Negras.
Conheça as demais homenageadas: https://bit.ly/3CSzCPt
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CRESS Goiás
Assessoria de Comunicação
Cláudio Marques – DRT 1534