A conjuntura atual nos traz uma perspectiva conservadora e de desmonte da política social, em especial a de assistência social. Esse movimento de ruptura com a democracia e com a conquista de direitos garantidos pela Constituição de 1988 demonstra ter força e adeptos, especialmente a partir do golpe de 2016. Enfrentar essa situação exige que assistentes sociais e outros segmentos da classe trabalhadora se coloquem como sujeitos da história e façam a resistência e a luta necessárias pela retomada de direitos, por mais vitórias e pelo aprofundamento da democracia.
A avaliação é da Assistente Social e professora da UnB, Kênia Augusta Figueiredo, que representou o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), na abertura do Encontro Estadual 2021, realizado pelo CRESS Goiás. O encontro, embora consultivo e remoto, devido a regras estabelecidas pelo CFESS em função da pandemia, debateu as ações da atual gestão e traçou metas e objetivos do Conselho para o próximo período. Todo o resultado será levado para a Plenária Nacional do Conjunto Cfess-Cress, a ser realizada de 3 a 5 de setembro.
Figueiredo saudou os/as participantes e parabenizou o CRESS pela “coragem de, com muito planejamento e muitas boas ideias, organizar a luta de profissionais assistentes sociais” e pelas parcerias com o CFESS, a ABEPSS e o Movimento Estudantil, na realização do encontro. A dirigente do CFESS destacou ainda o bom combate da categoria nos últimos 50 anos e chamou a atenção das e dos novas e novos profissionais para que “assumam as nossas bandeiras históricas e as atuais” para manter viva e com perspectivas a profissão.
Assistente social e professor do Curso de Serviço Social da UFG/Câmpus Goiás, George Ceolin falou no encontro na condição de vice-presidente da Regional Centro-Oeste da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS). Ele também considera o momento desafiante, “com esse governo irresponsável”. E aponta como caminho a resistência: “Não desistiremos das batalhas e lutas. Vamos fortalecer a nossa união, visando a construção de uma nova sociedade, baseada em nosso projeto ético-político-profissional”, destacou.
O tema do encontro foi “Assistentes Sociais e o Planejamento Participativo na contemporaneidade”. A proposta é romper com os modelos de planejamentos tradicionais, de gabinete, em que uns planejam e outros só executam, ressalta a Conselheira-presidente do CRESS Goiás, Nara Costa. “Defendemos o planejamento participativo por entender que essa ferramenta tem relação direta com o referencial teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo assumido pela categoria há mais de quarenta anos, com o movimento 'intenção de ruptura', em que a teoria crítica de matriz marxiana e de tradição marxista passa a orientar tanto a nossa maneira de ler e analisar o mundo quanto o nosso modo de trabalhar”.
Costa explica que o planejar e o executar são momentos que não se desvinculam, portanto estão permanentemente relacionados. “Daí a defesa de que o planejamento das ações, bem como a sua efetivação e o permanente estudo da realidade compõem a totalidade do trabalho profissional e nessa medida deve ser assumido pelo conjunto da categoria. E é com essa compreensão que o conjunto CFESS-CRESS há 50 anos realiza anualmente o Encontro Nacional com todos os regionais, com representação de profissionais de base, gestão e trabalhadoras/es, para avaliar, debater, propor e deliberar sobre as ações a serem desenvolvidas pelas entidades representativas, em constante articulação com a categoria, com movimentos sociais populares e sindicais, com setores progressistas da sociedade e junto aos poderes públicos executivos, legislativos e judiciário”, destaca a presidenta do CRESS Goiás.
Nara Costa sublinha ainda que o Encontro Estadual do CRESS Goiás, proposto como momento de planejamento, é pensado como algo dialético, que “tanto tem uma ação prática de construirmos coletivamente os desafios do nosso tempo presente, sejam profissionais, nossa organização interna e externa, nossa formação formal, permanente e continuada e nossa articulação para a defesa coletiva das políticas públicas, expansão dos direitos sociais e construção de uma sociedade com emancipação humana”.
Nesse sentido, prossegue a dirigente do CRESS, o encontro é também um espaço de formação, qualificação para o exercício profissional, com vistas a experienciar este instrumental e refletir a ação de planejar de forma participativa, trazendo como resultados avanços concretos na ampliação da participação da classe trabalhadora, “aqui inclusos os usuários das políticas públicas, nos rumos da história e fortalecimento da democracia", evidencia a Conselheira-presidente do CRESS Goiás, Nara Costa, para informar que houve todo um processo de preparação e mobilização para o encontro, com a realização de reuniões por região, organizadas com os núcleos de base (NUCRESS) e também reuniões das comissões do Conselho, que antecederam ao encontro.
CONSTRUÇÕES COLETIVAS
O tema do Encontro foi desenvolvido pela Profa. Dra. Neimy Batista, do Curso de Serviço Social da UFG/Câmpus Goiás. Além de uma análise de conjuntura da realidade, ela falou sobre o planejamento no cotidiano profissional e acerca do planejamento participativo, em contraposição à sua forma tecnicista. Inicialmente, Neimy Batista trabalhou conceitos e enfatizou que para toda prática há uma teoria, e que a relação teoria-prática precisa ser perseguida com o devido rigor. “Sem estudo e análise crítica da realidade seremos meros repetidores. Ainda mais nesse mundo atual que nos ‘robotiza’ e nos ‘maquiniza’”. Para ela, este é o tempo vivido mais desafiante de toda a vida dela, com condições políticas, econômicas, sociais agravadas pela pandemia. “Mas precisamos acreditar e conseguir sair dessa, não adoecer ou sair do adoecimento, afinal, sem sonho e esperança a gente adoece. Então temos que lutar pela nossa sobrevivência, pelos nossos direitos e fazer história, mudar a história”, acredita Batista.
Mas o que significa sobreviver e lutar e mudar a história no contexto do trabalho, da subjetividade e da vida? – pergunta e aguarda que as pessoas participantes reflitam e opinem. Como no primeiro dia parte das pessoas estava acanhada, a própria professora ousou responder, sempre deixando aberto o campo das ideias: “nossas metas e objetivos precisam levar em consideração a individualidade mas também e principalmente devem ser ‘construções coletivas’. Portanto, devemos querer mudar a nós e à realidade, pois a transformação consciente do mundo, da vida e da sociedade decorre ao mesmo tempo, no trabalho, na participação social”, pontuou.
Na avaliação das/os participantes, o segundo dia foi tão bom quanto o primeiro, com um adicional relevante: as pessoas estavam mais à vontade e participaram ativamente com opiniões e ideias. Tanto que a direção do encontro, sob a coordenação da Conselheira-presidente do CRESS, Nara Costa, propôs e teve a anuência do colegiado para alterar a dinâmica. Anteriormente estava prevista a apresentação das ações, metas e objetivos por eixos: Ética, Fiscalização, Trabalho e formação, Seguridade Social, Comunicação e Administração e finanças. Decidiu-se então fazer o diálogo e o debate abertos, com incríveis contribuições de professoras como Omari Martins, Darci Costa (que também compõem a Comissão de Trabalho e Formação), Maria Conceição S. Padial Machado (conselheira), e de vários/as profissionais assistentes sociais da base e da assessoria do CRESS.
Assim que for finalizada a sistematização do encontro, que foi realizado nos dias 19 e 20 de agosto/2021, a divulgaremos e a disponibilizaremos em nosso site.
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CRESS Goiás
Assessoria de Comunicação
Cláudio Marques – DRT 1534