Artigo “Serviço Social, luta e resistência”, de Tereza Cristina Pires Fávaro, conselheira do CRESS Goiás - Conselho Regional de Serviço Social, Gestao 2017/2020, é destaque no caderno Opinião Pública do jornal *Diário da Manhã.
"Serviço Social, luta e resistência"
"Falar em Serviço Social brasileiro no tempo presente é reconhecer a trajetória histórica de luta e resistência emprendida ao longo dos seus 82 anos. A profissão de assistente social surgiu na década de 1930, sob o Estado Novo, regulamentada em 1957 com a Lei 3252, posteriormente pela Lei 8.8662, de 1993. A oficialização do curso superior de Serviço Social advém da Lei nº 1889 de 1953.
Trata-se de uma profissão de caráter sociopolítico, crítico e interventivo, que utiliza de instrumental científico multidisciplinar das Ciências Humanas e Sociais para análise e intervenção nas diversas expressões da questão social. Isto é, no conjunto de desigualdades resultantes do antagonismo entre a socialização da produção e a apropriação privada dos frutos do trabalho. O assistente social atua nas indústrias, empresas públicas e privadas, órgãos patronais de Serviço Social (SESC, SESI), Organizações Não Governamentais. Todavia, tem nas políticas públicas um espaço profissional privilegiado de atuação, saúde, previdência, educação, habitação, lazer, assistência social, justiça, migração no atendimento à população ou na formulação e execução de políticas públicas que possibilitem o acesso aos direitos. "No trabalho cotidiano, o assistente social lida com situações singulares vividas por indivíduos e suas famílias, grupos e segmentos populacionais, que são atravessadas por determinações de classes. São desafiados a desentranhar, da vida dos sujeitos singulares que atendem, as dimensões universais e particulares, que aí se concretizam como condição de transitar suas necessidades sociais da esfera privada para a luta por direitos na cena pública, potenciando-a em fóruns e espaços coletivos (IAMAMOTO, 2017, p.30).
O Serviço Social é uma das poucas profissões que possui um projeto profissional coletivo e hegemônico, denominado Projeto Ético Político, pautado em amplo debate da categoria e expressa o compromisso com a construção de uma nova ordem societária, justa, democrática garantidora de direitos universais e dos interesses da classe trabalhadora. Tal projeto, materializado por meio do Código de Ética do(a) Assistente Social (1993), pela Lei de Regulamentação da Profissão também do mesmo ano e das Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social (1996).
Nesse chão histórico, marcado por lutas e conquistas, é de fundamental importância o papel desempenhado pelas entidades organizativas acadêmico-profissional dos assistentes sociais, Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), o Conselho Federal de Serviço Social, os Conselhos Regionais e a Entidade Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO). Desse movimento, a profissão foi capaz de se reinventar, romper com a identidade conservadora, com a ética da "neutralidade" de sua emergência, reconstruindo seus referenciais teóricos e metodológicos à luz da teoria social crítica, necessários a interpretação da realidade bem como a compreensão de suas múltiplas determinações, sociais, políticas, econômicas, históricas, culturais, para inserir de forma criativa e propositiva no campo profissional, além da sensibilidade e vontade políticas que movem a ação.
Parafraseando Marx, os homens não fazem história como querem, mas a partir de condições dadas. Portanto, em tempos sombrios, de regressão conservadora associada à intolerância política, sigamos, empunhando nossa bandeira da esperança e a nossa rebeldia, combatendo o retorno ao "primeiro-damismo" e a desprofissionalização da assistência social, o ataque aos direitos sociais, o desrespeito aos direitos humanos, a criminalização das lutas sociais, a banalização da vida, a cultura da indiferença, do medo que reforça a naturalização das desigualdades sociais. Reafirmando o nosso compromisso com a ética, a democracia, a liberdade, contra a discriminação de gênero, raça, etnia, cor e a defesa das políticas públicas garantidoras de direitos universais, acreditando que um outro mundo é possível e necessário, por que somos classe trabalhadora, nossa escolha é a luta e a resistência."
Além de Assistente social e conselheira do CRESS, Tereza Cristina Fávaro é professora(UFG), mestre em Serviço Social (PUC) e doutora e História(UFG).
É o CRESS Goiás na 35ª Semana do Assistente Social.