Histórico, dificuldades e desafios do Serviço Social em Angola são debatidos com os participantes da 34ª Semana do/a Assistente Social e comparados à realidade vivida pela categoria brasileira
A Conferência “Serviço Social em Angola”, com apresentação do mestre Amor António Monteiro na manhã desta terça-feira, 09, despertou a curiosidade dos participantes da 34ª Semana do/a Assistente Social, organizada pelo CRESS Goiás. As intensas guerras civis e a tardia independência do país africano, alcançada em 1975, impactaram diretamente no trabalho a ser realizado pelos Assistentes Sociais locais.
Amor, que é coordenador do Programa do Serviço Social das Forças Armadas angolanas, destacou que a própria compreensão do serviço social e o entendimento que se tem da questão social são os principais desafios dos profissionais da classe, que ainda não é tão compreendida pela populacação em geral. “Ser assistente social requer quatro anos bem sentados em uma carteira e muitos livros muito bem lidos", disse.
Entre as diferenças com a realidade brasileira, o professor comentou que aqui houve um processo de ‘reconceituar’, dar novo conceito, entendimento à função da/o Assistente Social, “porque já uma base a ser questionada. Essa reflexão precisa ser posta em Angola também: qual serviço social queremos em Angola? Qual Angola queremos? Qual Angola teremos?”, afirmou, pontuando que, para isso, é preciso entender o próprio país, em que medida o serviço social pode ser emancipatório e como deve ser a medição das políticas públicas.
Durante sua fala, Amor Monteiro assinalou que as Forças Armadas Angolas são a instituição que mais emprega servidores públicos de serviço social em seu país, já que o Estado tem esse papel de proteção e amparo para com o povo. O professor confessou lamentar com a relação dos brasileiros com o militarismo: “Fico surpreso com a violência da força policial no Brasil. Me surpreende a violência da força policial e a imagem do militar aqui, porque esse país não viveu uma guerra como a nossa”, salientou, ponderando perceber que o militarismo aqui é visto como instrumento de uma dada elite.
E contrapoz a realidade vivida na Angola: “Nossas forças armadas são populares, são filhos do povo, trabalham com o povo e para com o povo. São a mobilização, são a extensão, o braço armado do povo. De fato, todo pais tem particularidades, mas não o militarismo não deixa de ser um espaço de expressão da questão social”, finalizou.
Histórico:
Segundo o conferencista angolano Amor, a Igreja Católica teve um importante papel na criação e manutenção da profissão em seu país. “Na primeira guerra que vivemos, para a libertação nacional, de 1961 a 1975, a Igreja criou o Instituto Pio XII, a primeira escola de Serviço Social. Ela surgiu como doutrinadora da Igreja e destacava que evangelizar é civilizar, não necessariamente “aportuguesar”, pontua, destacando que a instituição dava forças à população lutar contra o imperialismo português na região.
A Independência de Angola em 1975 veio sob o prisma do socialismo e o novo governo determinou o fechamento da escola criada pela Igreja Católica. A maioria dos/as assistentes sociais que atuavam ali faziam parte da classe burguesa, os únicos que tinham acesso à educação na época, e acabaram voltando para Portugal ao fim da guerra. “Até 2005 ficamos ser Serviço Social”, conta Amor, explicando o motivo: “De 1975 até 2002 vivemos outra guerra, agora entre partidos antagônicos que seguiam ou o capitalismo ou o socialismo, e eram financiados justamente pelos países mais relevantes de cada um desses blocos – Estados Unidos e Rússia”.
Nesse meio tempo, em 1992, Angola passou de um sistema socialista monopartidário para uma sociedade de mercado, seguindo o Neoliberalismo. Foi a partir dai que houve a abertura para entidades privadas criarem instituições educacionais. Depois desse período, em 2005, a Igreja Católica recriou a Escola de Serviço Social. Em 2010, o governo angolano criou o Instituto de Serviço Social e, hoje, Angola tem duas escolas de formação.
Breve currículo de Amor António Monteiro:
Doutorando e Mestre em Serviço Social no Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Brasil (2016). Especialista em Auditoria de Sistemas de Saúde e gestão da Saúde pela Faculdade Oswaldo Cruz, São Paulo - Brasil (2016). Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Católica de Angola (2010). É professor auxiliar do Instituto Superior Técnico Militar, professor e investigador da Universidade Católica de Angola, coordenador do Programa de Assistência Psicológica e Social nas Forças Armadas Angolanas.
Fotos: Ricardo Alves