A novidade em 2024 foi a elaboração de um painel sobre o debate étnico-racial e a luta antirracista. Representou o Cress Goiás e será agente de multiplicação do curso a conselheira Priscila Rodrigues Nonato.
Terminou no último sábado (19 de outubro), em São Paulo (SP), a 19ª edição do Curso Ética em Movimento para Agentes de Multiplicação, que integra o projeto do CFESS que há mais de duas décadas vem contribuindo para aprofundar diálogos e reflexões para a categoria profissional sobre os fundamentos, valores e princípios do Código de Ética Profissional.
Participaram assistentes sociais das gestões dos CRESS, do CFESS e da base, totalizando 32 participantes, além das professoras que ministraram os seguintes módulos: Caderno 1 - Ética e História (Maria Lucia Barroco); Caderno 2 - Ética e Trabalho profissional (Cristina Brites); Caderno 3 - Ética e Direitos Humanos (Silvana Mara de Morais dos Santos); e Caderno 4 - Ética e Instrumentos Processuais (assessora jurídica Sylvia Helena Terra).
Para a edição de 2024, a novidade foi a elaboração de um painel sobre as relações étnico-raciais e o exercício profissional, como uma forma aprofundar ainda mais o debate sobre o tema nos módulos do Curso, no sentido de uma formação antirracista.
Tal estratégia é reflexo de debates realizados ao longo dos anos no Conjunto CFESS-CRESS, especialmente no bojo da campanha de gestão Assistentes Sociais no Combate ao Racismo (2017-2020) e da deliberação da categoria no 50º Encontro Nacional CFESS-CRESS.
“Manter a existência deste curso por tantos anos é enfrentar o imediatismo de reflexões tão pertinentes para a nossa categoria profissional. A lógica do sistema capitalista acelera o relógio do tempo das possibilidades de diálogos coletivos. Sem dúvidas, os impactos da multiplicação serão profícuos para assistentes sociais, população usuária dos serviços sócio-ocupacionais e sociedade civil. Em conjunto, ultrapassamos os muros limitantes do senso comum e reafirmamos a defesa da democracia, liberdade e emancipação humana”, avaliou a diretora do CRESS-RS, Aline Escobar, que participou do curso.
Importante destacar que cada participante sai do Curso com a tarefa de retornar às suas bases para multiplicar o conteúdo apreendido, em outros cursos, dessa vez regionais, com a participação de assistentes sociais. Dessa forma, espraiam-se os princípios do Código de Ética no interior da categoria para enraizá-los no cotidiano profissional.
“O curso rema na contramão de valores substancialmente postos por essa sociedade, onde majoritariamente tem um fio condutor: o individualismo. Portanto, além de aprimorarmos a nossa concepção sobre a ética, em uma perspectiva histórica, olhando para os seus fundamentos, associamos também ao exercício prático no cotidiano profissional, com possibilidades de intervenções a partir de critérios que tenham a liberdade e o coletivo como valores centrais”, opinou Lucas Catarino, assistente social do Piauí.
Para a professora da UFRB e integrante da Abepss, Débora Rodrigues, o curso apresenta muitas possibilidades para se pensar sua multiplicação nas diferentes regiões do país. “Acredito que podemos vislumbrar sua articulação com atividades de ensino, de pesquisa e de extensão nas universidades, buscando uma aproximação com a categoria nesses espaços de forma didática e cultural na sua metodologia”, sugeriu.
Segundo ela, no âmbito do ensino, o material pode ser utilizado em sala de aula na graduação, “inclusive trabalhar as propostas de atividades e indicar como referências bibliográficas. No âmbito da pesquisa também é muito rico e pode viabilizar o desenvolvimento de projetos de pesquisa com cursistas nas atividades do Ética em Movimento. No tocante à extensão, existem muitas formas do curso ser replicado através de projetos ou de outras atividades que formam a curricularização da extensão nas universidades. Desse modo podemos desenvolver ações, projetos e programas extensionistas como espaços institucionais na replicação do curso Ética em Movimento”, encerrou.
Plataforma antirracista e ‘mulheragem’
Além dos cadernos dos quatro módulos do Curso Ética para Agentes Multiplicadores, disponíveis para download para toda a categoria, o CFESS organizou uma seleção de materiais sobre relações étnico-raciais produzidos ao longo dos anos, alguns inclusive já utilizados no Curso, contribuindo ainda mais para o debate.
Confira a lista:
Folder especial Ética em movimento e as relações étnico-raciais
Resolução CFESS nº1054/2023, que veda condutas de preconceito ou discriminação étnico-racial
Assistentes Sociais no Combate ao Racismo - O Livro
Plataforma Antirracista Abepss
Cada edição do Curso também tem uma particularidade: participantes escolhem um “nome” para representar aquela turma. Em 2024, a turma escolheu fazer uma ‘mulheragem’ para a assistente social e professora Mauricleia Soares, ex-diretora do CFESS e do CRESS-SP, mulher nordestina negra, militante, que recentemente enfrentou um problema de saúde, mas que segue firme em defesa das bandeiras de luta do Serviço Social, especialmente, na luta antirracista. “Sua vida é marcada pela dedicação e compromisso no processo de construção do projeto profissional, sendo impossível tratar da organização política da categoria profissional sem nos referirmos a ela. Com participação também no CFESS, vem protagonizando a defesa concreta do antirracismo no Serviço Social, vinculando a luta contra o racismo à luta contra o cisheteropatriarcado”, diz trecho do texto de mulheragem, que foi lido na presença de Mauricleia.
Para o conselheiro e integrante do Comitê Antirracista do CFESS, Tales Fornazier, a 19ª edição do Curso Ética em Movimento é histórica porque reforça, evidencia e amplifica o compromisso antirracista que o projeto Ética em Movimento carregou ao longo de seus quase 25 anos de existência e porque destaca e valoriza a contínua contribuição de Mauricleia Soares para o Serviço Social brasileiro.
“Foi um curso Ética em Movimento carregado de muitas emoções. Aprofundamos o diálogo sobre as relações étnico-raciais e o antirracismo a partir de um debate ontológico e radical, compreendendo a diversidade humana como constitutivas do ser social, o qual precisa ser apreendido em sua concretude, e não como mera abstração, descolado das determinações históricas e sociais”, enfatizou Tales.
Ele também explicou que “o capitalismo antidiverso se apropria da diversidade humana para perpetuar seus mecanismos de dominação e opressão, produzindo desigualdades e assimetrias contra as populações socialmente minorizadas (populações negras, indígenas, quilombolas, mulheres, LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência etc.)” e que, nesse sentido, o Curso possibilitou reafirmar a necessidade se avançar na construção de estratégicas que mirem para a “construção de um horizonte de emancipação humana, recusando concepções que reforcem falsos antagonismos entre as lutas anticapitalistas, antirracistas e antisexistas”.
Por fim, o conselheiro do CFESS reverenciou mais uma vez Mauricleia Soares, “uma referência importante e inspiração de luta para muitas gerações de assistentes sociais”.
Relembre vídeo comemorativo dos 10 anos do Ética em Movimento
Baixe o material do curso
Caderno 1 - Ética e História (Maria Lucia Barroco);
Caderno 2 - Ética e Trabalho profissional (Cristina Brites);
Caderno 3 - Ética e Direitos Humanos (Silvana Mara de Morais dos Santos);
Caderno 4 - Ética e Instrumentos Processuais (Sylvia Helena Terra).
Arte: Rafael Werkema/CFESS
Fonte: www.cfess.org.br/noticia